Longe demais das capitais


Muito interessante este comentário!

LONGE DEMAIS DAS CAPITAIS?

Divulgação
Obra de Fábio Noronha, que participa da mostra Artistas Convidados

Adriane · Curitiba, PR
24/12/2006 · 249 · 6
É rara a aparição na mídia nacional de artistas plásticos paranaenses. Mas, nos circuito especializado, volta e meia alguém chama para si as atenções. Que fique claro: quando se toca no assunto (in)visibilidade das artes paranaenses, a intenção é tentar entender por que a História da Arte Brasileira continua sendo contada por duas ou três capitais brasileiras. Talvez porque lá é que estão historiadores, jornalistas, produtores, a mídia, enfim, que repercute nacionalmente. Também se pode concluir que faltaria aos tupiniquins que vivem “longe demais da capitais” a mesma postura diante da produção mais próxima. Afinal, é rara, também, a bibliografia sobre as artes produzidas no Paraná. É mais ou menos esse o fio da meada desta conversa com alguns artistas visuais que têm os pés fincados neste pedaço da República Federativa do Brasil.

Bati um papo com um grupo de artistas que já tem tempo de carreira e respaldo na mídia: Fábio Noronha, Carina Weidle, Grabriele Gomes e Lívia Piantavini, que estão na exposição “Artistas Convidados” no Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Curitiba. Se entre eles, é senso comum a riqueza da produção contemporânea feita aqui, também o é o fato de que inexiste mercado e política cultural, bases de sobrevivência em um circuito.

Meio fora do eixo
Noronha sabe que nem todo mundo consegue furar o cerco e há uma produção que “sobra”. “Se projetos curatoriais consistentes apostassem mais nela... Falta-nos construir e alimentar essa relação”, pondera. Marchands, curadores, galerias, produtores, críticos de artes, política cultural devem ser os “pés” de um cenário que mereça mais do que notas de rodapé. “E como qualquer outro profissional, o artista tem que tentar vender seu trabalho, chegar mais perto de instituições, salões, curadores. Se São Paulo e Rio são mais agilizadas em produzir modelos, é porque existe essa relação entre quem cria e quem aposta na qualidade de quem cria. O resto é conseqüência”, pondera.

Agora que Curitiba tem um espaço “internacional”, o Museu Oscar Niemeyer (MON), avaliam os entrevistados, a expectativa é de uma parceria mais consistente neste sentido. Administrado pelo Governo do Estado, o local é, também, o pomo do descontentamento pela falta de diálogo com a produção local, sinal, avaliam, de falta da política cultural. “Eu me sinto satisfeito, mas nem na Bienal do Mercosul lembro de ter visto um olhar para a produção daqui. Então, talvez estejamos mesmo meio fora do eixo”, diz Noronha.

Carina, ao criticar a falta de uma política cultural, garante que não se trata de reserva de mercado, só que tantas vezes se sente como que recebendo um favor, que é o caso de perguntar: “Qual é a importância das artes plásticas para o Paraná? Desenvolver uma visualidade é legal? Então vamos investir em uma própria”, atira. Outro problema que deriva disso é a precariedade do acesso à informação. “É diferente de se ter um MuMa no bairro ao lado, e o ensino é que tem que fazer um esforço enorme para superar essa lacuna”, pontua ela que, como Noronha, é professora. “Não temos nem acervos”, completa.

Quando o assunto é galerias e marchands, a satisfação é maior, embora sejam pouquíssimos os profissionais do ramo. “Precisamos encarar que não há mercado pra arte no Brasil”, fala Carina, que atualmente é sua própria marchand. “Eu acho produzir mais importante. O pessoal está se comendo por um espaço. Então, ou você entra nessa corrida ou gasta suas energias com a produção. Será que eu estou errada...”.

“É preciso vender a arte daqui sem paranismo”

Mesmo com essas dificuldades, segue Gabriele, nota-se os paranaense em evidência, ganhando prêmios e em Bienais. “Pode até não ter tido ninguém na Bienal, mas o Toni (NR. Camargo) está lá em São Paulo, super bem conceituado, em uma paralela. Ele é da geração 2000, que está amadurecendo a olhos vistos”. Porém, pondera em seguida: "A gente vai comendo pelas beiradas. Falta curador e galerista que nos leve para outras paragens. Os bons que temos não têm esse poder de fogo”, observa. Talvez todo o problema esteja mesmo entre nós. “As pessoas não têm o hábito de ir ao museu e os diretores e curadores têm idéias muito provincianas. Arte boa é arte e ponto. Se escuta muito arte paranaense, mas não se fala de arte paulista ou carioca”.

Lívia Piantavini é da tal geração 2000, que tem entre os seus destaques o grupo de onde ela e Toni Camargo saíram, o Pipoca Rosa – formado por estudantes de artes da UFPR que chamou a atenção em uma intervenção urbana que distribuía pacotes daquela pipoca doce que vem em pacotes cor-de-rosa. “Não estávamos satisfeitos com a produção artística, nem com a forma como os museus funcionavam, tampouco com a política cultural. Como todo pretendente a artista a gente queria participar. E deu certo”, diz Lívia. Os problemas que eles viram continuam aí. “A diferença é que a gente não ouvia essas discussões agora tão constantes”, pontua. O maior problema, e Lívia não sabe se isso é local mas imagina que não, é a falta de profissionais para cada área do mercado das artes: museólogos, críticos, marchands, marketing cultural. “Como não temos pessoas para discutir certas questões, acabamos nós fazendo isso, o que pode provocar certas contaminações”, comenta e segue: “Por exemplo, é insuportável como as discussões sobre artes visuais hoje em dia acabam sempre em política cultural. Não se fala do trabalho, mas da falta de condição. Claro que isso tem que ser discutido, mas virou justificativa para não produzir”. O legal, por outro lado, comenta ela, é que existe abertura para os novos artistas no circuito local. Muito por conta do trânsito de criadores já estabelecidos no ensino.

Reverberação diferente
Porém, ela também nota como Florianópolis e Porto Alegre se posicionaram mais rapidamente no circuito nacional. O que prova, defende, que só fica isolado quem quer. “Aqui estamos caminhando para essa profissionalização, tem muita gente estudando as artes paranaenses de um jeito universal e não bairrista”.

Porém, ainda existe um abismo entre o que as pessoas vêem e o que é produzido. Mas, o problema não é de linguagem. “Olham nossos trabalhos com um olhar de fora. Só que o Paraná teve uma história muito fechada. Meu trabalho é muito mais influenciado por gente daqui, porque foi o que realmente vi e isso tem uma reverberação diferente”, analisa a jovem, citando os três que expõem com ela no Mac como suas influências maiores. “E tão pouca gente fala disso”, ressente-se. E na inexistência de uma crítica que acompanhe essa produção, conheça as histórias, reside sua grande insatisfação. “Só vejo analisarem nossas criações de uma perspectiva de fora para dentro, o que cria uma certa incompreensão”, pondera. “É nítido que os artistas que mais se projetam fora são os que se aproximam mais de linguagens correntes no Rio e São Paulo do que daqui. Temos conversado sobre isso entre nós”. 

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